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sábado, 7 de abril de 2012

VEJA COMO A PÁSCOA CHEGOU NA ESCOLA ROBERTO VELTRE

Dia 04/04: Parabéns aos professores Ricardo e aos seus monitores do Sesi pela doação de trabalho, energia e criatividade.

Atividades  do dia 04/04 e 05/04: Parabéns aos professores pela doação da lembrança e do ovo de Páscoa às crianças e parabéns a toda equipe escolar pela colaboração e empenho na organização de uma Páscoa diferente.




sexta-feira, 6 de abril de 2012

O FENÔMENO DA CONCORDÂNCIA DE NÚMERO EM REDAÇÕES ESCOLARES: ALGUMAS REFLEXÕES.


Fabiana Magalhães Dias
 Professora Português/Inglês
 Atualmente leciona "Hora da Leitura" na Oficina Pedagógica da Escola Estadual de Tempo Integral Profº Roberto Veltre

A variação na concordância de número no português do Brasil tem sido bastante estudada pelos lingüistas. As primeiras pesquisas constataram que a ausência de concordância pode ser encontrada, principalmente, na fala de indivíduos com pouca escolarização.
Esses estudos sobre fenômenos variáveis no Brasil baseiam-se nos princípios teóricos e metodológicos da teoria da variação lingüística laboviana. Sob essa perspectiva, a língua é um sistema variável, indeterminado e não fixo, ou seja, apresenta variação e a sua configuração estrutural se altera continuamente no tempo (princípio da mudança). Essas “mudanças” que ocorrem na língua, segundo Labov (1983 apud MOLICA; BRAGA, 2003), atingem somente partes e não o todo da língua, de forma gradual.
Sendo assim, a teoria sociolingüística estuda a variação e/ou mudança lingüística. Seguindo essa teoria, os sociolinguistas coletam dados de falantes de determinadas comunidades, separando-os de acordo com sexo, idade e nível sociocultural. Depois disso, descrevem as regras variáveis do sistema lingüístico a partir de fatores lingüísticos e extralingüísticos. A sociolingüística veio demonstrar que os “erros”, na fala e na escrita, não passam de um mito, sem base em dados reais.
Labov (1983 apud MOLICA; BRAGA, 2003), o “fundador” da Sociolingüística Quantitativa (teoria da Variação e Mudança Lingüística), cuja abordagem busca estabelecer correlações entre grupos sociais e variedades de uso lingüístico e captar nas bases sociais a direção da mudança, afirma que, nos diversos estudos empíricos que realizou, a grande maioria dos enunciados é constituída de frases corretamente bem formadas segundo todos os critérios. Assim sendo, sob o olhar da sociolingüística laboviana, a probabilidade de que alguém produza uma sentença agramatical é quase nula.
Especificamente, voltando-se para o tema desta pesquisa, observamos que existem vários trabalhos que envolvem análises da concordância no sintagma nominal. Os primeiros estudos foram feitos por Braga e Scherre (1976), quando analisaram dados de sete falantes residentes no Rio de Janeiro, de classe social e procedência geográfica distintas. Depois, Braga (1977) desenvolveu sua dissertação de mestrado analisando a fala de sete indivíduos de classe média e baixa do Triângulo Mineiro. Em 1978, Scherre, também para o desenvolvimento da sua dissertação de mestrado, analisou dados de 10 falantes da área urbana do Rio de Janeiro, seis semi-escolarizados, alunos do Movimento Brasileiro da Alfabetização (MOBRAL), três universitários e um com 11 anos de escolarização. Em 1988, Scherre aborda essa o tema novamente e desenvolve sua tese de doutorado, reanalisando a concordância nominal a partir dos dados do Corpus Censo do PEUL.
Essas pesquisas mencionadas são apenas algumas, entre tantas outras que foram e ainda são desenvolvidas sobre o fenômeno da concordância. Todas elas buscam aprofundar e evidenciar que o fenômeno da variação na concordância de número no português do Brasil está longe de ser restrito a uma região ou classe social específica, sendo característico de toda a comunidade brasileira. Dos trabalhos realizados até o momento, pode-se constatar que o fenômeno da variação de número no Português Brasileiro (doravante PB) pode ser caracterizado como um caso de variação lingüística inerente, tendo em vista que ocorre em contextos lingüísticos e sociais semelhantes.

 
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, N. T. Gramática da Língua Portuguesa para Concurso, Vestibulares, ENEM. São Paulo: Saraiva. 2003.
BAGNO, Marcos. Preconceito Lingüístico. 21ª edição, São Paulo, SP: Loyola, 2003.
BECHARA, E. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2000.
Bentes, A.C. e Mussalim, F. (orgs.). Introdução à lingüística : domínios e fronteiras . 3. ed. São Paulo: Cortez.
BRAGA, M. L. A Concordância de número no sintagma nominal no triângulo mineiro. PUC, Rio de Janeiro, 88p. Dissertação de Mestrado, 1977.
BRAGA, M. L.; SCHERRE, M. M. P. A concordância de número no SN na área urbana do Rio de Janeiro. In: Anais do Encontro Nacional de Lingüística. Rio de Janeiro: PUC, 1976, p.464-477.
CAMPOS, O. G. L. A. S; RODRIGUES, A. C. Flexão nominal: indicação de pluralidade no sintagma nominal. In: ILARI, R. (org.) Gramática do português falado. Vol. II: Níveis de análise lingüística. 3a. ed. Campinas: Ed. da UNICAMP. 1996.
CUNHA, C.; CINTRA, L.F. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2003.
MOLLICA, M.C, BRAGA, M. L. Introdução à Sociolingüística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003.
Naro, A. J.; Scherre, M. M. P. Estabilidade e mudança lingüística em tempo real: a Concordância de Número. In: Paiva, M.C. & Duarte, M. E. L. (orgs.) Mudança Lingüística em Tempo Real. Rio de Janeiro: Conta Capa Livraria, 2003.
SCHERRE, M. M. P. A regra de concordância de número no sintagma nominal em português. PUC, Rio de Janeiro. 158p. Dissertação de Mestrado, 1978.
SCHERRE, M. M. P. Aspectos da concordância de número no português do Brasil. Revista Internacional de Língua Portuguesa (RILP) - Norma e Variação do Português. RJ: Associação das Universidades de Língua Portuguesa, 1994, p.37-49.
SCHERRE, M. M. P. Reanálise da concordância nominal em português. UFRJ, Rio de Janeiro. 554p. Tese de Doutorado, 1988.
SCHERRE, Maria Marta Pereira. Doa-se lindos filhotes de poodle: variação lingüística, mídia e preconceito. São Paulo: Parábola, 2005.

domingo, 1 de abril de 2012

Contos de fadas

Os contos de fadas, longe da mera aparência de fantasia e de ingenuidade de mulheres, de narrativas para crianças, abrigam verdade humana na sua essencialidade primitiva, bem como denunciam o aspecto político no que diz respeito à História do feminino.
Nilda Medeiros
Graduada em Letra pela Faculdade São Luis de Jaboticabal, pós graduada  em Teoria e Crítica Literária, em Teorias Linguísticas e Ensino e Mestre em Estudos Literários pela Unesp de Araraquara
 1. Origem
1.1  Perspectiva histórica
A origem dos contos denominados contos de fadas vem de longe. Um longe pré-histórico de acordo com Vladimir Propp; e um longe que é espaço-temporal em outra dimensão, a de um mundo que é sombra, que é sonho e que precisa ser habitado mais e mais para compreendê-lo.
No livro As Raízes Históricas do Conto Maravilhoso, Propp diz que os contos de fadas são oriundos das comunidades que não conheciam outra forma de subsistência além da caça. Esses primitivos habitavam um mundo que eles viam como misterioso e aterrador, e para manifestar as emoções vivenciadas criaram os mitos, os ritos, os símbolos.
Os ritos primordiais eram o de iniciação para marcar a entrada do jovem na vida adulta, e o rito fúnebre para marcar quando as pessoas morriam. Esses ritos se desenvolviam a partir de gestos e palavras imagéticas, ou seja, constituíam histórias que os explicavam. Tais histórias não eram, ainda, como os contos que conhecemos, mas já formavam os primeiros elementos das narrativas míticas, os primeiros contos.
Nelly Novaes Coelho (1991, p. 31), remetendo-nos mais uma vez à origem dos contos de fadas, observa a proximidade da poesia com as narrativas orais e, consequentemente, com os contos de fadas no seu nascedouro quando diz: “Foi no seio do povo celta que nasceram as fadas. Ou melhor, foi na criação poética céltico-bretã que surgiram as primeiras mulheres sobrenaturais a darem origem à linhagem das fadas”. Nelly N. Coelho, ao tratar da passagem da História para a lenda e para a Literatura, cita os textos-fontes, dentre eles Os Mabinogion:
Expressos em língua gaulesa, os Mabinogion, quatro poemas narrativos surgidos por volta do século IX, também pertencem àquela fronteira entre real e imaginário, onde cresceram os textos-fontes da narrativa maravilhosa. Neles nascem as fadas e, ao mesmo tempo, dá-se a passagem das aventuras “arturianas” da História para a lenda.
Os Mabinogion estão, pois, entre os mais antigos documentos da poesia primitiva céltico-gaulesa, a que está na origem da grande novelística da matéria bretã: as novelas de cavalaria do ciclo do rei Artur. Transformada pela imaginação celta (nutrida de lendas, feiticeiros, fadas, seres sobrenaturais, florestas encantadas, lagos e pântanos, castelos ou montanhas misteriosas, espectros etc.), a História transforma-se em lenda ou mito. (COELHO, 1991, p. 45).

Segundo a autora é no poema “O sonho de Rhonabry”, que as fadas podem ter sido mencionadas pela primeira vez. (1991; p.46).
1.2  Perspectiva psicanalítica
Segundo Propp, os contos nasceram dos mitos, dos ritos. Já o psicanalista Géza Róheim, contemporâneo de Freud, no livro The Gates of Dreams (RÓHEIM apud COLASANTI, 2004a, p. 229), fala da proximidade dos sonhos e dos mitos, e diz que eles não estabelecem apenas semelhanças, diz que muitos mitos originam-se dos sonhos.
Para argumentar sobre a origem dos contos de fadas, Marina Colasanti, em seu livro Fragatas para Terras Distantes, cita a nota inicial da edição francesa de 1978 do livro de Marie-Louise Von Franz, La loi de l’individuation dans les contes de fées, escrita pela tradutora Francine Saint René Tailhandier, cujo conteúdo mostra relatos de sonhos. Marina diz que tal nota inicial “[...] começa com seis páginas de relatos que diríamos extraídos de contos de fadas” (COLASANTI, 2004, p. 230).
A relação dos contos de fadas com os sonhos não é nova, basta observar o que diz Carl Jung (1964, p.69), na referência a um caderno que um cliente seu, psiquiatra, recebera da filha de dez anos de idade. Diz Jung: “Continha [o caderno] uma série de sonhos que ela tivera aos oito anos de idade. Foi a série de sonhos mais fantástica que já vi [...]”.
De acordo com o psicanalista, os relatos começavam com o protocolo dos contos de fadas Era uma vez. “[...] Com isso, a menininha sugere que cada sonho é uma espécie de conto de fadas, que ela quer contar ao pai como presente de Natal” (70).
Jung afirma ser impossível não associar tais relatos a algo elaborado conscientemente, somente quem conhecesse aquela menina afastaria tal possibilidade.
Nove dos doze sonhos estavam influenciados pelo tema da destruição. E nenhum deles revela qualquer traço de uma educação ou de uma influência cristã. Ao contrário. Estão mais relacionados com mitos primitivos. Essa relação se confirma em um outro motivo – o mito cosmogónico (a criação do mundo e do homem), que aparece no quarto e quinto sonhos.(p.72).

Jung continua argumentando sobre os sonhos da referida menina numa analogia com elementos e situações que a mesma jamais pudesse ter tido conhecimento ou ter vivenciado. Finaliza com a constatação de que os sonhos trouxeram o seguinte para a menina:
[...] uma preparação para a morte, expressa através de pequenas histórias, como os contos narrados nas cerimônias primitivas de iniciação ou os Koans, do Zen-budismo”. [...] Deve ter-se originado fora da tradição histórica, em fontes psíquicas há muito esquecidas e que, desde os tempos pré-históricos, têm alimentado a especulação religiosa e filosófica a respeito da vida e da morte.
Foi como se acontecimentos ainda por vir projetassem de volta a sua sombra, despertando na criança certas formas de pensamento que, apesar de habitualmente adormecidas, descrevessem ou acompanhassem a aproximação de um desfecho fatal. (p.75).

Os contos de fadas desenvolvem-se a partir de  duas dimensões: o “longe” como infinitude, transcendência, espaços do além mundo natural, da imaginação, do onírico e da fantasia que permeiam a existência humana – típicos espaços dos contos maravilhosos; e o “longe” como a memória, como o aspecto histórico que se articulam de diferentes maneiras na história da humanidade, guardando suas raízes como herança cultural. Esta herança viaja no tempo e no espaço, de boca em boca, como memória coletiva; viaja por meio das Sibilas, das Melusinas, da rainha de Sabá, das fadas, das feiticeiras, das velhas mexeriqueiras, das imagens em tapeçarias e afrescos, das xilogravuras, sem que se possa precisar o momento e o lugar exatos do seu início. E é como memória coletiva que chega a Nápoles do século XVII e ganha registros na escrita, em 1634, a partir de Giambattista Basile com o Pentameron.  Em 1697 chega também à França na boca da Mamãe Gansa de Charles Perrault.