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sábado, 17 de março de 2012

Perspectiva do gênero: maravilhoso e fantástico


                                                                                                               
Nilda Medeiros
Graduada em Letras, pós graduada  em Teoria e Crítica Literária, em Teorias Linguísticas e Ensino e Mestre em Estudos Literários pela Unesp de Araraquara

Os contos de fadas, geralmente, são classificados como contos maravilhosos. Mas para Nelly N. Coelho é imprescindível a distinção de ambos.
De acordo com a autora, os contos de fadas surgiram de poemas Celtas que tratavam de amores estranhos, fatais, eternos, os quais, posteriormente, vão integrar as novelas arturianas que revelam uma preocupação com os valores eternos do ser humano, predominando o aspecto espiritual.
Para Nelly, são contos de fadas com ou sem a presença de fadas, mas sempre se inscrevem no maravilhoso, visto que são ambientados num cenário de magia feérica com reis, rainhas, príncipes, princesas, fadas, gênios, bruxas, gigantes, anões, objetos mágicos, metamorfoses, tempo e espaço fora da realidade natural. Esses contos desenvolvem-se a partir de uma problemática existencial e, predominantemente, tal problemática gira em torno da união de homem e mulher.
Já os contos maravilhosos são de origem de narrativas orientais, que elegeram o aspecto material, sensorial e ético do ser humano; são narrativas preocupadas com as necessidades básicas: estômago, sexo, poder e suas paixões do corpo. E a autora cita como exemplo o acervo de contos maravilhosos reunidos em As Mil E Uma Noites. (COELHO, 1991, p.12-13).
Os contos maravilhosos:
São narrativas que, sem a presença de fadas, via de regra se desenvolvem no cotidiano mágico (animais falantes, tempo e espaço reconhecíveis ou familiares, objetos mágicos, gênios, duendes etc.) e têm como eixo gerador uma problemática social (ou ligada à vida prática, concreta). Ou melhor, trata-se sempre do desejo de auto-realização do herói (ou anti-herói) no âmbito socioeconômico, através da conquista de bens, riquezas, poder material etc. Geralmente, a miséria ou a necessidade de sobrevivência física é ponto de partida para as aventuras da busca.(COELHO, 1991, p.14).

Para Tzvetan Todorov (apud VOLOBUEF, 1993, p. 99-100), o maravilhoso é um gênero que apresenta o sobrenatural sem surpresa, choque ou hesitação. Este gênero difere do estranho, gênero que abriga uma trama em que figuram personagens e ações, a princípio incomuns, mas que de acordo com o desenvolvimento dos fatos acabam sendo aceitos por serem explicados de acordo com o mundo natural. E o fantástico situa-se no campo que divide, separa o maravilhoso e o estranho, mas ele é fugaz e dura apenas o instante da permanência de dúvida quanto à natureza dos acontecimentos narrados, se são naturais ou sobrenaturais.
O conto de fadas faz parte destas variedades do gênero maravilhoso.

1.4 A estrutura do conto de fada

Segundo Todorov (apud VOLOBUEF, 1993, p. 100), o “que distingue o conto de fadas é certa escritura, não o estatuto do sobrenatural”. E como demonstra Karin Volobuef, o conto de fadas desenvolve temas universais, as ações giram em torno das tarefas e do herói, as emoções e o caráter das personagens são apreendidos a partir de seus atos, visto que as personagens não são descritas física e psicologicamente. As personagens, às vezes, recebem nomes genéricos ou comuns ou nem recebem e são denominadas pelo que representam na narrativa. Esta, obedece à ordem cronológica dos acontecimentos, os quais não são marcados com data ou lugar e transcorrem no domínio do Era uma vez. A narrativa não abriga longas descrições e o narrador se apresenta em terceira pessoa, inscrevendo a objetividade dos fatos.(1993, p. 100-103).

Outros aspectos a observar no conto de fadas é se está  construído de acordo com a estrutura morfológica de contos de fadas apresentada por Propp. Se  Inicia-se com o protocolo dos contos de fadas: verbo no pretérito imperfeito (Era uma vez); Se apresenta  um desequilíbrio inicial (uma falta). A mudança da história ocorre com a presença de verbo no pretérito perfeito, aludindo à outra referência dos contos de fada, (por ex., Um dia...). Nos contos de fadas é comum a ocorrência da metamorfose (transformação), pois, geralmente, desenvolve-se em torno de uma iniciação do herói (nascimento, casamento, morte, descoberto da identidade etc.). Observar as tarefas que,  geralmente, são três. O cumprimento das tarefas pelo herói, os elementos de ajuda (elementos mágicos),  a recompensa (sanção), e o típico Final Feliz. Os contos de fadas modernos, geralmente, subvertem o “Final feliz”. Os contos de Marina Colasanti são exemplos de tal subversão.

Medeiros, Nilda Maria. A enunciação poética nos contos de Marina Colasanti / Nilda Maria Medeiros – 2009 204 f. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Estudos Literários) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquar
 Orientador: Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan

       l. Poesia. 2. Contos. 3. Gêneros literários. 4. Colasanti, Marina, 1937-. 
5. Literatura brasileira – Séc. XX. I. Título. 

Acessar site da Unesp – pós-graduação-stricto senso – mestrado – Estudos Literários – 2009    Nilda Maria Medeiros
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