Nilda Medeiros
Graduada em Letras, pós graduada em Teoria e Crítica Literária, em
Teorias Linguísticas e Ensino e Mestre em Estudos Literários pela Unesp de
Araraquara
Os contos de fadas, geralmente, são classificados como contos
maravilhosos. Mas para Nelly N. Coelho é imprescindível a distinção de ambos.
De acordo com a autora, os contos
de fadas surgiram de poemas Celtas que tratavam de amores estranhos, fatais,
eternos, os quais, posteriormente, vão integrar as novelas arturianas que
revelam uma preocupação com os valores eternos do ser humano, predominando o
aspecto espiritual.
Para Nelly, são contos de fadas
com ou sem a presença de fadas, mas sempre se inscrevem no maravilhoso, visto
que são ambientados num cenário de magia feérica com reis, rainhas, príncipes,
princesas, fadas, gênios, bruxas, gigantes, anões, objetos mágicos,
metamorfoses, tempo e espaço fora da realidade natural. Esses contos
desenvolvem-se a partir de uma problemática existencial e,
predominantemente, tal problemática gira em torno da união de homem e mulher.
Já os contos maravilhosos são de origem de narrativas
orientais, que elegeram o aspecto material, sensorial e ético do ser humano;
são narrativas preocupadas com as necessidades básicas: estômago, sexo, poder e
suas paixões do corpo. E a autora cita como exemplo o acervo de contos
maravilhosos reunidos em As Mil E Uma Noites. (COELHO, 1991, p.12-13).
Os contos maravilhosos:
São narrativas que, sem a
presença de fadas, via de regra se desenvolvem no cotidiano mágico (animais
falantes, tempo e espaço reconhecíveis ou familiares, objetos mágicos, gênios,
duendes etc.) e têm como eixo gerador uma problemática social (ou ligada
à vida prática, concreta). Ou melhor, trata-se sempre do desejo de
auto-realização do herói (ou anti-herói) no âmbito socioeconômico,
através da conquista de bens, riquezas, poder material etc. Geralmente, a miséria
ou a necessidade de sobrevivência física é ponto de partida para as
aventuras da busca.(COELHO, 1991, p.14).
Para Tzvetan Todorov (apud
VOLOBUEF, 1993, p. 99-100), o maravilhoso é um gênero que apresenta o
sobrenatural sem surpresa, choque ou hesitação. Este gênero difere do estranho,
gênero que abriga uma trama em que figuram personagens e ações, a princípio
incomuns, mas que de acordo com o desenvolvimento dos fatos acabam sendo
aceitos por serem explicados de acordo com o mundo natural. E o fantástico situa-se
no campo que divide, separa o maravilhoso e o estranho, mas ele é fugaz e dura apenas
o instante da permanência de dúvida quanto à natureza dos acontecimentos
narrados, se são naturais ou sobrenaturais.
O conto de fadas faz parte destas
variedades do gênero maravilhoso.
1.4 A estrutura do conto de fada
Segundo Todorov (apud VOLOBUEF,
1993, p. 100), o “que distingue o conto de fadas é certa escritura, não o
estatuto do sobrenatural”. E como demonstra Karin Volobuef, o conto de fadas
desenvolve temas universais, as ações giram em torno das tarefas e do herói, as
emoções e o caráter das personagens são apreendidos a partir de seus atos,
visto que as personagens não são descritas física e psicologicamente. As
personagens, às vezes, recebem nomes genéricos ou comuns ou nem recebem e são
denominadas pelo que representam na narrativa. Esta, obedece à ordem
cronológica dos acontecimentos, os quais não são marcados com data ou lugar e
transcorrem no domínio do Era uma vez. A narrativa não abriga longas
descrições e o narrador se apresenta em terceira pessoa, inscrevendo a
objetividade dos fatos.(1993, p. 100-103).
Outros aspectos a observar no
conto de fadas é se está construído de acordo com a estrutura morfológica
de contos de fadas apresentada por Propp. Se Inicia-se com o
protocolo dos contos de fadas: verbo no pretérito imperfeito (Era uma vez); Se
apresenta um desequilíbrio inicial (uma falta). A mudança da história
ocorre com a presença de verbo no pretérito perfeito, aludindo à outra
referência dos contos de fada, (por ex., Um dia...). Nos contos de fadas é
comum a ocorrência da metamorfose (transformação), pois, geralmente,
desenvolve-se em torno de uma iniciação do herói (nascimento, casamento, morte,
descoberto da identidade etc.). Observar as tarefas que, geralmente, são
três. O cumprimento das tarefas pelo herói, os elementos de ajuda (elementos
mágicos), a recompensa (sanção), e o típico Final Feliz. Os contos de
fadas modernos, geralmente, subvertem o “Final feliz”. Os contos de Marina
Colasanti são exemplos de tal subversão.
Medeiros, Nilda Maria. A
enunciação poética nos contos de Marina Colasanti / Nilda Maria Medeiros – 2009
204 f. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Estudos Literários) – Universidade
Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquar
Orientador: Maria de
Lourdes Ortiz Gandini Baldan
l. Poesia. 2. Contos. 3. Gêneros literários. 4. Colasanti, Marina, 1937-.
5. Literatura brasileira – Séc.
XX. I. Título.
Acessar site da Unesp –
pós-graduação-stricto senso – mestrado – Estudos Literários –
2009 Nilda Maria Medeiros
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