O
gosto pela leitura começa com exemplos. Quando presenciamos hábitos de leitura
na família, nas comunidades, nas escolas a tendência é apreciar tais hábitos
como necessários e corriqueiros. A escola é um dos principais espaços para a
implementação de tais exemplos de leitura.
Blog destinado a todos que se interessam por conhecimentos diversos. Por se tratar de um blog criado para fins educativos-culturais, aqui pode-se encontrar textos de educadores, professores, pesquisadores e quem mais estiver interessado em divulgar pensamentos, fotos, textos, contos ou crônicas. Para divulgar mande seu material para o email do blog, não esqueça os dados de publicação ou pessoais.Aproveitem as leituras.
quinta-feira, 31 de maio de 2012
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Projeto " Gincana de Leitura"
GINCANA
DE LEITURA NA ESCOLA – GÊNEROS “DO LIVRO
DE TEXTOS DO ALUNO DO 2º ANO” DO PROGRAMA “LER E ESCREVER”
Disciplina:
Classe Comum e Oficinas Curriculares
Público
Alvo: alunos do 1º ao 5º ano
Período: do
2º ao 4º bimestre
Responsáveis
:
Todos os professores e a direção
Representante dos professores: Marlene
Manzi
Quando se pensa a literatura erudita, inevitavelmente, o
pensamento reconhece as narrativas orais, pois a erudita bebe constantemente na
fonte das narrativas orais. Considerando tal observação, vê-se que é mesmo no
ciclo I que tais leituras devem permear o cotidiano escolar de forma que, além
de garantir o resgate da cultura popular, também forme o leitor que lerá e
entenderá a literatura erudita hoje, amanhã e sempre.
Leitura
de parlendas, trava línguas, adivinhas, piadas, cantigas, canções, poesias,
contos, fábulas, lendas, mitos, receitas, brincadeiras e biografias.
1ª Gincana: 25/05/12 - Parlendas
1ª Gincana: 25/05/12 - Parlendas
Todas as citações marcadas por aspas
foram extraídas, na íntegra, do livro
Formas Simples de André Jolles, Tradução de Álvaro Cabral, 1976, Editora
Cultrix, São Paulo
Os textos que foram organizados a partir da oralidade são
classificados como Forma Simples. A Adivinha é uma forma bastante interessante
se observarmos desde a sua origem a sua estrutura, bem como o seu uso na
linguagem humana. A Adivinha “é constituída por pergunta e resposta”. (p.109) E
ela está presente na vida das pessoas através de jogos infantis, da sessão de
passatempo dos jornais e revistas. De acordo com Jolles, por mais difícil que
seja uma Adivinha ela sempre deverá ter uma resposta, porque “uma Adivinha
insolúvel não é uma Adivinha”. (p. 111).
Semelhança
com o Mito
O mito é outra forma simples que contém pergunta e
resposta. “Mas trata-se de outro saber e de outra curiosidade. No Mito, o homem
interroga o universo e seus fenômenos acerca da natureza profunda deles, e o
universo dá-se a conhecer numa resposta, numa ‘profecia’. Na adivinha, o homem
já não está em relação com o universo: há um homem que interroga outro homem e
de modo tal que a pergunta obriga o outro a um saber. Um dos dois possui o
saber, é a pessoa que sabe, o sábio; o interlocutor o enfrenta e é levado, pela
pergunta, a pôr em jogo suas forças, seus recursos e sua vida, para chegar a possuir também o saber e apresentar-se ao
outro como sábio.[ ] Na forma do Mito,
somos os indagadores; na Adivinha, somos os indagados – e de tal modo que
devemos responder. É por isso que o Mito ostenta as cores da liberdade, a
Adivinha as do constrangimento; por isso, o Mito é atividade, a Adivinha
passividade. É por isso também que o Mito alivia enquanto a Adivinha oprime. E
não é por mero acaso que o equivalente em velho-alto alemão da Adivinha era a
palavra tunkal, que significa ‘a
coisa tenebrosa’”. (p. 112).
Origem
De acordo com especialista, há um grupo de tipologias. Um deles é “o Grupo de Enigmas da
Esfinge. Os Exemplos são muito conhecidos: temos a história da Esfinge,
Turandot, o Imperador e o Abade, o Companheiro de Viagem de Andersen e todas as
outras variantes. O examinador é, nestes casos, um ser mais ou menos cruel, ou
uma princesa ou um rei, enfeitiçados e ligados a poderes maléficos. [ ] Em
todos os casos, porém, a fórmula é sempre a mesma: “Adivinha ou morre!” Em
todos os casos, trata-se de uma prova capital, na acepção mais profunda do
termo. (p.113)
Adivinha
da Esfinge
Quem
anda de quatro patas de manhã, duas ao meio dia e três patas à tarde? (aqui, a
manhã, o meio dia e a tarde não significam obrigatoriamente os momentos do dia,
e sim, as fases principais da vida humana. E as patas, ou pernas, não se
reduzem a uma parte do corpo).
Outro grupo, o
de Enigmas de Ilo, “derivado de uma de suas mais freqüentes atualizações.” (p.
114). Este conto-adivinha ou simplesmente adivinha é muito conhecido e possui
quatro ou cinco versões:
“[sobre Ilo vou,
Sobre Ilo estou,
Sobre Ilo, a bela e gentil.
Adivinhem, meus senhores, o que isto
quer dizer.]”. (p.114)
“Eis
uma das explicações: ‘Uma jovem fora acusada de ter morto uma criança mas,
outrora, quando se era condenado à morte, se se pudesse apresentar aos juízes
uma adivinha e estes não soubessem decifrá-la, então o réu era solto. A jovem
tinha um cão a que chamava Ilo e com a pele do animal fizera um par de sapatos.
No dia seguinte, ela calçou os sapatos, foi até os juízes e propôs-lhes sua
adivinha. Os juízes não puderam adivinhar e a moça foi posta em liberdade’.
Além da adivinha do Ilo, tomada em seu sentido estrito, entram neste grupo
inúmeras adivinhas apresentadas e contadas com explicações semelhantes, como
‘Duas pernas sobre três pernas’, ‘Não-nascido’ etc. Portanto, apresenta-se aqui
uma adivinha que proporciona a liberdade e a vida se não for adivinhada. A
questão é posta pelo acusado e equivale a dizer: ‘Apresenta uma adivinha e
viverás’.
Tudo se passa como se as duas categorias
convergissem a partir de pólos opostos de uma só disposição mental. Não poder
resolver uma adivinha é morrer; apresentar uma adivinha que ninguém resolve é
viver”. (p.114).
A Adivinha goza das prerrogativas da
ambigüidade. “Ela não apenas é redigida na língua especial de um grupo como
redigida de modo a dar ao não-iniciado a impressão de ser incompreensível. [ ]
‘pé de montanha’ pertence à língua especial e [ ] a pergunta ‘O que é que tem
um pé e não pode caminhar?’ é uma Adivinha. Que é, então, que faz a Adivinha?
Ela reconduz da língua especial à língua comum, do pé cuja ambigüidade pode
sustentar várias coisas, ao pé humano, parte do corpo sem ambigüidade; e torna
a língua especial incompreensível a partir da língua comum.
Nilda Maria Medeiros
Mestre em Estudos
Literários e Pós graduada em Teorias Linguísticas e Ensino pela Unesp de
Araraquara
3ª Gincana : Cantigas de Roda e Brincadeiras
As cantigas e brincadeiras de roda são manifestações folclóricas onde as crianças se dão as mãos, formam uma roda e cantam melodias que podem ou não ser acompanhadas de coreografia.
Antigamente, eram muito comuns no cotidiano infantil da criança brasileira. Hoje, no entanto, é uma manifestação que está sendo esquecida, pois as crianças estão mais interessadas em outros tipos de música e brincadeiras.
As cantigas de rodas, tanto brasileiras quanto estrangeiras, são basicamente folclóricas. Possuem letras, melodias e ritmos simples e lúdicos, envolvendo brincadeiras, danças e trava-línguas. As músicas utilizam, normalmente, um compasso binário.
Alguns acreditam que são originárias de modificações feitas em músicas de autores populares ou criadas anonimamente pelo povo. Por serem repassadas, de geração em geração, através do que se chama transmissão oral, é comum existirem diferenças regionais nas letras de algumas delas.
As brincadeiras de roda ajudam a sociabilizar e desinibir as crianças, uma vez que exigem o olhar frente a frente, o toque corporal, a exposição, pois em muitas delas cada um deve se apresentar no centro da roda. Auxiliam no desenvolvimento da expressão corporal, senso rítmico e organização coletiva. São também um dos elementos importantes para a integração e o lazer infantil. Texto de Lúcia Gaspar.
4ª Gincana : Receitas
As receitas são um gênero textual muito adequado para incluir na rotina das turmas que estão na fase inicial do processo de alfabetização. É um gênero de circulação social bastante corrente, presente em todas as classes sociais (mesmo nas cozinhas mais precárias se podem encontrar receitas que estão impressas nas embalagens de produtos básicos como o óleo ou o arroz). Sua estrutura – uma pequena ficha (tempo de preparo, rendimento e grau de dificuldade, em alguns casos), uma lista e depois um parágrafo, geralmente com os verbos nos modos imperativo ou infinitivo – facilita as antecipações e permite que se coloque em prática uma série de comportamentos de leitor relacionados a ler para fazer alguma coisa, um dos importantes propósitos sociais de leitura que nossos alunos precisam aprender.
Bingo da Higiene

Projeto - Saúde Bucal
Disciplina:
Oficina Curricular: Saúde e Qualidade de Vida
Transversalidade: Saúde e Cidadania
Público Alvo: 1º ao 5º ano
Período de Realização: 2º, 3º e 4º bimestres
Professora Responsável: Graziela Antonângelo
Considerando que a criança permanece das 7h
às 16h10 min. na escola, faz-se necessário o esforço para a implementação da
escovação dentária após o almoço, de forma a ensinar a saúde bucal e praticá-la
com orientações dos professores. Embora a escola não conte com local apropriado
vem se implementando adequações.
No dia 01/06 os alunos do 5º ano assistiram uma palestra com o Dr. Luiz Paulo, dentista da escola, onde receberam orientações de como manter os dentes saudáveis.
O projeto " Escovação na escola" acontece todos os dias após o almoço e já é perceptível as melhoras nos hábitos dos alunos. Segundo o dentista da escola, Dr. Luiz Paulo a melhora também é visível nos dentes dos alunos
O Pronome pessoal de terceira pessoa
O pronome pessoal de terceira pessoa: a referenciação pronominal textual na crônica “Tentação” de Clarice Lispector - Nilda Maria Medeiros
“Tentação”
Ela estava
com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.
Na rua
vazia as pedras vibravam de calor - a
cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava.
Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como
se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de
momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que
fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra
desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser
ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca
ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava num degrau
faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa
velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já
habituado, apertando-a contra os joelhos.
Foi
quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú.A
possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando
uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua
fatalidade. Era um basset ruivo.
Lá
vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento.
Desprevenido, acostumado, cachorro.
A menina
abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela.
Sua
língua vibrava. Ambos se olhavam.
Entre
tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a
menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem
latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava?
Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou
por cima do soluço e continuou a fitá-lo.
Os
pêlos de ambos eram curtos, vermelhos.
Que
foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram
rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam.
Pediam-se com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
No
meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a
criança
vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de
tantos esgotos secos – lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva
carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um
instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se
pediam.
Mas
ambos eram comprometidos.
Ela com
sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela
fosse
uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
A dona
esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset
ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com
o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam.
Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os
joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina.
Mas ele
foi
mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.
LISPECTOR,
Clarice. Tentação. In: A legião
estrangeira. São Paulo. Ática, 1977. pp.59-60.
O pronome pessoal, como já dito, de acordo com Neves (2000, p.449), “tem
uma natureza fórica, isto é, ele é
um elemento que tem como traço categorial a capacidade de fazer referência pessoal:” a algo ou a
alguém de forma anafórica ou cataforicamente referidos no texto, conforme se
observa com os pronomes de terceira pessoa.
Considerando a natureza fórica do pronome pessoal, já observamos, na
crônica “Grande Edgar”, uma de suas funções básicas: a interacional, que se
refere à fala em discurso.
E , na crônica “Tentação”, observaremos a sua função de fazer
remissão textual, que se refere a elementos do próprio texto. (NEVES, 2000,
p.452).
“Tentação”
Ela
estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela
era ruiva.
Na
rua vazia as pedras vibravam de calor -
a cabeça da menina flamejava. Sentada nos
degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só
uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu
olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento,
abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva
com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra
desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo
era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua
marca ia fazê-la
erguer insolente uma cabeça de mulher? Por
enquanto ela
estava num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava
era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor
conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.
A crônica inicia-se
com o pronome pessoal Ela fazendo
referência a algo que ainda não fora apresentado no discurso. Em seguida,
repete-se o mesmo pronome acrescido de uma informação, a de que esse ela era ruiva. No segundo parágrafo é
que se sabe que o pronome de terceira pessoa ela é referenciador do referente menina. E, logo em seguida, o ela
a retoma.
Ainda no mesmo parágrafo, a expressão uma
menina ruiva é o referente propriamente dito. É interessante observar que
menina aparece de forma indefinida, marcando o inédito para o enunciador que,
em seguida, dirá que elas se olharam. O pronome pessoal oblíquo nos introduz o enunciador no discurso
incluindo-se ao ator menina (nós= eu e ela).
O possessivo sua, bem como os
oblíquos [l]a e a fazem remissão textual à menina,
a qual é retomada pelo pronome pessoal ela.
Foi
quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão
em Grajaú. A
possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando
uma senhora, e encarnada na figura de um cão.
Era um basset lindo
e miserável,
doce
sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.
Lá
vinha ele
trotando, à frente de sua dona, arrastando seu
comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.
A
menina abriu
os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro
estacou diante dela. Sua língua vibrava.
Ambos se
olhavam.
Entre
tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que
viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele
fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o
sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço
sacudiu-a
desafinado. Ele
nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e
continuou a fitá-lo.
No terceiro parágrafo é apresentado outro ator na cena narrativa. E a
remissão a esse novo referente se dá cataforicamente através do possessivo sua, referenciador da menina ruiva. A catáfora nominal um irmão é referenciador do sintagma cão. Um basset lindo, miserável, doce, ruivo, ele, seu, fazem
remissão a cão. Logo em seguida os
dois atores são referenciados por menina
e cachorro.
É interessante observar que, no
parágrafo anterior, o referente menina aparece após um artigo indefinido. Também
o cão, no parágrafo em questão, vem após um artigo indefinido. Mas no momento
do conhecerem-se, bem como do enunciador os conhecer passam a ser referidos
seguidos de artigos definidos.
Ainda tratando dos pronomes de terceira pessoal que fazem remissão
textual, observa-se o [d]ela
retomando menina, o ela retomando [d]ela e o oblíquo a retomando
ela. O oblíquo o retomando ele, o
pronome ele retomando aquele cachorro e o oblíquo [l]o
retomando ele.
Os
pêlos de ambos eram curtos, vermelhos.
Que
foi que se
disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se
comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar
eles se
pediam. Pediam-se com urgência, com encabulamento,
surpreendidos.
No
meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E
no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos
esgotos secos – lá estava uma menina, como se fora carne de
sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos,
entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se
quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se
pediam.
O pronome reflexivo se faz
referência aos dois atores: a menina
e o cachorro, bem como o pessoal eles. No parágrafo observado, o
referente menina ruiva é referenciado
por criança vermelha.
Mas
ambos eram comprometidos.
Ela
com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse
uma mulher. Ele,
com sua
natureza aprisionada.
A
dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset
ruivo afinal despregou-se
da menina
e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o
acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam.
Acompanhou-o
com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até
vê-lo dobrar
a outra esquina.
Mas
ele foi
mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.
O pronome ela
por duas vezes faz remissão à menina. O pronome pessoal ele e o possessivo sua fazem
remissão a cachorro, o qual é
retomado pelo referenciador basset ruivo.
O oblíquo se refere-se a basset, bem como o oblíquo o retoma o se, e o [l]o retoma o o e, em seguida, é retomado pelo pessoal
ele.
É interessante pensar na construção desse texto a
partir dos elementos em análise, atentando para o processo de geração de
sentido no texto.
Em “Tentação”, o enunciador relata e descreve uma
cena cotidiana a que se submetera. Como algo se dá a partir de seres
desconhecidos e que, só após observações e reflexões desse enunciador intimista
sabe-se da situação por que passam a menina e o cão ruivos – também a
estratégia de construção dos enunciados opera por pronomes antes de apresentar
o nome, bem como a apresentação do cão como sendo um irmão por já inferir a
solidão da menina. A raça e a característica ruiva são descritas posteriormente
porque são elementos observáveis só quando estão frente a frente, mas que o cão
lhe seria um irmão, sabe-se de longe.
É a estratégia, a meta discursiva, gramatical
(?), somando sentidos no tecido textual.
BIBLIOGRAFIA
BECHARA,
Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa.
São Paulo:Companhia Editora Nacional, 1982.
IGNÁCIO,
Sebastião Expedito. Análise Sintática em Três Dimensões. Franca (SP):
Ribeirão Gráfica e Editora, 2003.
LISPECTOR,
Clarice. Tentação. In: A legião
estrangeira. São Paulo. Ática, 1977. pp.59-60.
NEVES, Maria
Helena de Moura. Gramática de Usos do
Português. Araraquara (SP): Unesp, 2000.
_______ . Texto e gramática. São Paulo: Contexto,
2007.
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